Por mais movimentado que tenha sido o dia, não importa com quantas pessoas tenha conversado, há uma hora em que a solidão sempre chega. Sombra que avança sob a luz da rua, silêncio que fala mais alto do que o som da televisão que lhe faz inútil companhia. Mas a solidão tem lá seu jeito de se comunicar. Sibila lembranças com sua língua réptil trocando a pele seca da realidade por memórias de uma infância ainda úmida no fundo do poço. De repente ele se dá conta de que sempre foi sozinho. Não era à toa que seus brinquedos tinham vida, que cada índio e soldado do forte apache era nomeado e posicionado por uma vontade que não era dele, por um enredo que o ultrapassava como se o brinquedo fosse dono do menino. Tudo ao contrário. Esse mundo sempre foi todo ao contrário. A tristeza veio antes da dor assim como a poesia que veio antes do amor que a explicaria. A solidão promete que um dia vai ser sua amiga. Em troca, exige apenas que ele brinque com ela até que a morte os separe.
A poesia é minha, sua, nossa. A poesia é banho, surra, coça. A poesia é. O resto é troça.
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Reflexos
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