29.1.15

O arco

certas músicas
a música certa
às vezes nos acertam
em cheio
no coração
injetam
uma tristeza
sem explicação

certas músicas
músicas setas

seu alvo é a memória
de uma paixão sem razão.



28.1.15

Lua fora de curso

fora de curso
ela abandona o sol
e todos os planetas
abandona amantes
poetas
e pernetas
deixa as portas
sem maçanetas
fora de curso
ela invade as almas
com suas tristes
borboletas.


O autor

entre escrever
e viver
escolheu escrever
porque viver
exigia
uma certa autoria
e escrever
era só fingir
que a vida
não tinha autor
nem poesia.


21.1.15

Importações

tudo que importa
é ficção
sonho
fantasia
ilusão
tudo que importa
não cabe
não sabe
não procede
nem tem
solução
tudo que importa
é tão concreto
quanto um íntimo
desejo
do coração.


16.1.15

Aos vivos

a vida
é um copo
caneca
ou xícara
taça
jarra ou
balde
e quando a gente transborda
é porque
não morreu.


12.1.15

Cruzadas

cruzamos
impomos
dominamos
somos
cruzados
depostos
dominados
cruzamos
e uma vez cruzados
sempre
seremos
o futuro
do passado.

8.1.15

Ignorantista

de tanto
ignorar
era chamado
ignorante
ignoravam
que sob aquela
camiseta
escrito
[mamãe me ama]
havia
um coração
palpitante.


4.1.15

Código

nasci
com um código
de barras
muito antes
do próprio
código de barras
nascer
nasci com um código de barras
barra mansa
barra pesada
barra
um dia a gente se esbarra
se espalha
fode com o código
e renasce
com novas falhas.


Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.