30.4.16

Ato consumado

tinha esquecido
que amar
era esse desaguar
de cores
esse desamarrar
de sapatos
esse desarreio
no mato
esse desmazelo
no quarto
essa dor
esse parto
e não volto mais.


27.4.16

É bão?

um dia me disseram
"o mundo é bão sebastião"
mas logo vi
que era não
o mundo é bundão
cuida do cu dos outros
mas num cuida
do irmão
deixa ele morrer
de fome
de golpe
de desilusão
diz que deus existe
pra punir
a imperfeição
maltrata mulheres
chama pobre
e preto
de ladrão
um dia me disseram
"o mundo era bão sebastião"
logo vi que era
porque ser
nunca foi não.


Além

gosto de palavras
assim como quem gosta
de plantas
pedras
ou pneus
gosto de vê-las
paralelas
encaixadas
separadas
assimétricas
ou pintadas
em paredes
dispostas
em redes
espalhadas
compartilhadas
certas
ou erradas
não importa
gosto de palavras
e as últimas
não serão minhas
nem suas
nem de ninguém.


25.4.16

No bar

a tristeza
chega
de surpresa
como uma
sobremesa
que não
pedimos
mas pela qual
temos
que pagar
há muito
de mesa
na vida

e no bar.



21.4.16

Belo, recatado e dólar

o brasil
mostra o pau
dá a bunda
se vende
se vicia
se afunda
belo
recatado
guarda seu seio
só para os ricos
que mordem
seus bicos
que a natureza
pátria
mãe
beija
e imunda.

16.4.16

O demo e a democracia

o demo
nunca apoiou
a democracia
o demo
sempre demonstrou
o que queria
o demo
nunca votou
nem fez poesia
o demo
sempre apostará
na mais valia
amanhã é dia
de mostrar
ao demo
que até o demo
pode ter
seu dia
de demofobia.

15.4.16

Maremoto provoca Celacanto

nada acontece
por acaso
na verdade tudo
acontece
por acaso
mas pensar que o acaso
é ciência
nos dá assim uma sensação
de potência
de domínio
de gerência
de controle que não é remoto
uma dica:
a vida é maremoto
e o mar morto
é mais vivo
do que nunca.

12.4.16

Na Lapa

a gente vai
e vota
a gente vai
e luta
a gente vai
e resiste
a gente vai
e canta
porque a praça
é nossa praia
e nos arcos
da esperança
a democracia
balança
sacode
mas não dança
viva a lapa
viva o sonho
viva o povo
que sempre avança.

6.4.16

Afinitudes

afinidades
nos unem
divergências
nos separam
faço discurso
de união
mas sei que
no fundo
somos todos
indiferentes.

5.4.16

Compressor

quando a vida
revida
o tapa
que você não deu
quando a outra
face
disfarça
que não te viu
quando o justo
sufoca
a voz
que te revela
grite
lute
rebata
revolucione-se
porque a verdade
é a única
liberdade
que resta ao oprimido.


3.4.16

Mentira

mentira daqui
mentira de lá
mentira
em todo lugar
mentir é bom
mentir é o que há
mentir é fingir
que o que foi
não é
nem será
mentira
nos coloca
no devido lugar.

Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.