31.12.17

Pra quê?

o teclado
me pergunta
por que
ainda faço
poema?
respondo
que faço
como quem
vai
ao cinema
como
quem resolve
um problema
como
quem é
do sistema
como
quem caga
come
respira
transpira
suspira
e faz cena.

30.12.17

Pisando em anos novos

ai que saudade de nós
não do nós que nós fomos
mas do nós
que naquela tarde de sexo sem reflexo
nós sonhamos ser
ai que saudade
de nós
e dos nós que desfizemos
só para ficarmos a sós
ai que pena
de nós
e dos nós que fizemos
só para ficarmos
eternamente
sós.

27.12.17

Proposital

volto para buscar
um propósito
supositório de vida
na suposição
tão desnutrida
de que haja
chegada
meio
e até
um ponto
de partida.

21.12.17

Solstício



aqui embaixo
faz calor
lá em cima
faz frio
os povo
de lá
bate queixo
os povo
daqui
abre o bico
não sei
se pra lá
eu vou
não sei
se aqui
eu fico
só sei
que os pobre
chama de horror
e os rico
chama
solstiço.

5.12.17

Correria

viver
dá um medo
danado
é um tal
de estar vivo
cercado
de perigos
por todos
os lados
viver
não é
um lago
parado
é um rio que corre apressado pra desembocar
inacabado.


28.11.17

Cosmogonia


que o sol
seja a gema
de um ovo
estrelado
entre estrelas
pronto a explodir
sobre o arroz branco
conhecido como
eternidade
gosto de pensar
que somos
somente
o curto
intervalo
de sonhos
entre as refeições
mundanas
dos deuses.

11.11.17

Eu, você e Netuno

sei que vou morrer
um dia
como minha mãe
sei que vou morrer
uma noite
como meu pai
o certo
é todo mundo
vai
até porque
mesmo quem viveu
demais
quem viveu
até dizer
que era muito
não viveu pra ver
um simples
retorno
de Netuno.

3.11.17

Passarinho

o fato
de te amar
não me impede
de estar
tão bem
sozinho
há pássaros
que preferem
voar
outros

morrer
seguros
no ninho.

23.10.17

Vai pro Rio

Morar em Niterói é estar sempre indo pro Rio. É um estar na ponte a ver navios. É um poder partir, num salto ou num desvario.


20.10.17

Que dia é hoje?

não me digam
que hoje
é dia
do poeta
não sou isso
sou um asceta
eremito
em mim mesmo
e nenhuma
palavra
me acerta.

18.10.17

Danação

ouça bem
preste atenção
essa é a nossa nação
não há limite para a provação
mas não há fundo que não seja chão
um dia
tudo isso
vai revirar
revolução.

12.10.17

Um dia

e pensar
que um dia
fui criança
rimei
bagunça
com lambança
comi
até
encher a pança
e pensar que um dia
a gente
avança
cresce
e emburrece
até onde
a vista
nem alcança.

3.10.17

Chove

certas chuvas
caem bem
outras 
caem mal
mas a culpa
nem é das nuvens
é da nossa falta
de tempestades.


2.10.17

Semente

só quero a graça
de morrer
rápido
assim de repente
partir
sem dar trabalho
alguma saudade
deixar
e nunca restar
para somente.


23.9.17

Apocalipse não?

lamentamos informar
que o mundo
não vai acabar
e a vida
vai continuar
a não fazer
sentido
aliás
sentimos lembrar
que só
para constar
os pobres
pretos
e fodidos
de sempre
hoje
e eternamente
terão morrido.

19.9.17

16.9.17

Inanação

a gente olha
pro mar
vê um atlântico
uma europa
de ilusão
esquece
que aqui atrás
tem um continente
tem tanta gente
um continente
morrendo
de inanição.

2.9.17

Arruaça

na minha rua
tem um subúrbio
de sentimentos
pobre fala alto
pra caralho
e o filho
do vizinho
é mau
elemento
no subúrbio
da minha rua
cada alegria
tem seu custo
em cerveja
cigarro
e sofrimento.

31.8.17

Só fudendo

o amor
é líquido
mas incerto
não garante
dividendos
aceita
adendos
tá bom
tá doendo
é bom
e a gente só
oh
se fudendo.

28.8.17

Alminha

já passa de sete e meia
e ainda não fiz um poema
que sina
que pena
nada vale a pena
quando a hora
é pequena.

16.8.17

3.8.17

Simplicidade

um café
sua colher
a língua que lambe
o côncavo
habituada
que é
aos céus da boca
e aos bichos
do pé.

30.7.17

Prato

o poeta morre um pouco
em cada tristeza
alheia
cercado de tantas fomes
ele é prato
ele é ceia.

29.7.17

sempre só
como o avô
de minha avó
como uma corda
sem nó
como uma dor
sem dó
sempre só
e você sorrindo
imaginária
como a amante
que nunca tive
e sem nunca ser
achou de moer
meu coração
até virar pó.

27.7.17

Entreposto

algumas palavras
saem assim
a contragosto
carro parado
no posto
para calibrar
peido escondido
no encosto
que é pra ninguém
escutar
sirenes encobrindo
o desgosto
que é
a emergência
de alguém
pra atrapalhar
não vem que não tem
minha poesia não é exposição
de belezuras
carne crua
tortura
tontura
um dia vamos estar tão mortos
que nem
precisaremos
mais
nos matar.

25.7.17

Indiferente

todo ano ela vem
indiferente
ao passado 
ao presente
escandalosa
inconsequente
chega a doer
nos olhos
e na mente.

Amigo

aquele que olha
para você
antes de olhar
o próprio
umbigo
aquele que chora
por você
como se chorasse
o próprio
destino
aquele que chega
até você
como se chegasse
ao próprio
filho
amigo
não sei o que seria
essa viagem
sem olhar
para os lados
e ver
todos vocês
aqui
comigo.

18.7.17

A chuva

a chuva
achava
que chover
era novidade
quanta ingenuidade
há anos
que chove
muito
aqui dentro
da minha saudade.

26.6.17

Cidades

gosto de cidades
grandes
onde encontro 
pessoas
que nunca vi
e nunca mais
verei na vida
assim já vou
treinando
a inevitável
despedida.

19.6.17

Bom menino

a mosca voa
ressoa
nos ouvidos
duvida
do meu poder
de exterminar
inimigos
magnânimo
não a mato
nem cedo
aos instintos
assassinos
sou um bom
menino
mentira
o fato
é que meu karma
aflito
não suporta
nem o peso
de mais um
assassinato
pequenino.


16.6.17

Dos deuses

banda
bomba
bunda
bamba
ninguém vai
me convencer
que os deuses
não criaram
as melhores
palavras
do mundo.

6.6.17

Vênus & Marte

entre o querer
e o poder
resiste
o desejo
assim como
entre a língua
e os lábios
existe
o beijo
bonito é conquistar
o que sinto
e não o que
cegamente
vejo.

5.6.17

Americanas

que bacana
antes de voltar
pra casa
passo nas lojas
americanas
tem cuecas
tem panelas
tem televisor
microcomputador
tem biscoito
tem sabão em pó
tem barbeador
e até
sandálias havaianas
só não tem
aquele amor
esse eu comprei
na mão
da cigana.

2.6.17

Do caráter

fazer
um mundo
melhor
dá muito trabalho
um trabalho
do caralho
mas
eu aqui
faço
a minha parte
na difícil arte
de nunca
brochar.

23.5.17

Estranho

sinto um gosto
aspargo
se você 
leu amargo
é porque
não conhece
a esperteza
de ser
um magro
das larvas.

16.5.17

Mercúrios

descubro
que mercúrio
entrou em touro
então faço um poema
que vale ouro
duro
teso
um tesouro
escondo
que mercúrio
entrou em touro
não conto pra você
que nossa amizade
frouxa
leve
é namoro.

13.5.17

Escravo

eu sou pura
ideologia
toda hora
todo dia
comigo
não tem
anestesia
enquanto
houver
dor
desigualdade
agonia
vai ter
luta
palavra
pancadaria
no rabo
dessa
gente
que não quer
nossa alforria.

12.5.17

Líquido e certo

se uma tristeza
assim
tão tristonha
às vezes
te faz
chorar e molhar
a fronha
não tenha vergonha
essa mania
de sermos tristes
é rima bisonha
coisa de quem
sente
deita
e sonha.

8.5.17

10%

é cada poema
que nos aparece
um
não convence
outro
não apetece
quer saber?
hoje não vou
de poesia
garçom!
sim patrão?
cancela
o poema
e me traz
uma prece.

29.4.17

Movimentos

quanto maior
a repressão
maior será
a revolução
se todo repressor
soubesse a dor
que a gente
sente
seria
revolucionário
daqui pra frente.

28.4.17

Luta de classes

eu tenho
todas as classes
do mundo
você
nenhuma classe
num segundo

eu luto
você lucra

e eles?

bem
eles
vão levando
esse desgosto

profundo.



25.4.17

Quântica poesia

dizem
que o poeta
é chato
e um chato
nato
nato pato
pato poética
então
isso é
fato
todo poeta
é um chato
exponencial
que eleva
a estética
à chatice universal.

21.4.17

9.4.17

Mercúrio retrógrado

pare
e pense
você
não me convence
nem vence
perde
impaciente
recue e não olhe
pra frente
pra gente
praticamente
tire toda a roupa
do corpo
do armário
da mente
de agora em diante
vamos fazer
vamos comer
vamos morrer
diferentes.

4.4.17

Noturnos

a noite chega
com seus trejeitos
escuros
sombras mal faladas
gatos em cima
dos muros
sufocos
sussurros
não tenho insônia
nem me iludo
tenho é a cabeça
cheia
de entulhos.

29.3.17

Só sombras

desmontam
um país
como se fosse
um brinquedo
de armar
e não
amar
um dia
há de chegar
em que
o sol
não nascerá
e a noite
se fará
sombria
só fria
toda deles.

20.3.17

Puta poema

fico muito puto
quando penso
um poema
e a preguiça
o desleixo
a falta
de sistema
acha que não vale
a pena
não anota
não decora
não acena
ao contrário
fecha a barraca
mete o galho
dentro
recolhe
a antena
fico de luto
quando morre
um poema
assim sem nascer
sem crescer
sem ser solução
nem problema
pobres poemas mortos
antes de encarnar
e terem corpos
atores tortos
sem papel
sem tema
são meus abortos
meus esgotos
merdas
que eu não fiz
nem pra provar
que minha alma
era pequena.

Minha mãe

minha mãe
tinha um jeito
esquisito
de dizer
que me amava
flutuava
entre o amor
irrestrito
e o terror
aflito
fui filho
querido
fui monstro
bandido
que bom
que ficou
especialmente
aquilo
ao que não dei
ouvido.

12.3.17

Sanduíche

e lá vem chegando
o aniversário
do meu filho
que por um acaso
é na véspera
do de minha
mãe
que já morreu
fico entre a saudade
de duas infâncias
e a dúvida
sorrateira
se a vida
é mesmo
rápida
ou o lento
sou eu.

2.3.17

Salinas

entrementes
nos déssemos bem
com o tempo
e as mudanças
do firmamento
entrecorpos
nos demos mal
foi natural
foi normal
foi elemental
onde falta
açúcar
sobra só
o sal.


14.2.17

Matefísico

se eu
não vivesse
seria
um mero
imortal
por isso
eu como
cago
mijo
dou lucro
dou prejuízo
sou do bem
sou do mal
enquanto aguardo
o juízo final.

27.1.17

Enquantos

enquanto você para
tem gente
que corre
enquanto você bebe
tem gente
que sofre
enquanto você come
tem gente
que morre
até quando você
é o cara
que se fode.

26.1.17

Parafuso

só de te ver
passar
sem te conhecer
eu me
parafuso
sou velho
sou confuso
sou galileu
sou confúcio
mas também
sou romeu
sou peri
sou lancelote
sou quixote
e se o corpo
anda cansado
o coração
bate de novo
distraído
que é
esquecido
do muito uso.

18.1.17

Só um pouquinho...

o poeta
nunca
está sozinho
ele tem milhares
de palavras
soltas
no seu ninho
só para fingir
que a dor
é mais
um vício
de linguagem
uma miragem
no meio
do seu desalinho.

12.1.17

Imperícia

meti meu coração
na contramão
carai véio
veio a curva
me fudi
nem vi
o perigo
tudo bem
foda-se
acidentes acontecem
morri de novo
e de tanto
morrer
estou mais vivo.

9.1.17

Intenções

nossas boas
intenções
e ações
nem sempre
têm o efeito
que desejamos
pudera
se não sabemos
de onde viemos
como saber
aonde vamos?

5.1.17

Desumanos

não existem irmãos
não existem manos
apenas sócios
contra os direitos
de sermos

simplesmente

humanos.

3.1.17

Poema Novo

esse ano
botou um ovo
talvez da serpente
talvez de algo
novo
esse ano
botou um ovo
e a natureza
do bicho
está nas mãos
do povo.

Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.