25.11.06

Genesis

você nasceu
eu nasci
todos estamos aqui
esperando
o que há
de vir
um ônibus
um barco
um trem
um metrô
também
levando nosso código
genético
ético
hermético
daqui pra li
não sei
não vi
passou?
perdi.

Reta

sigo a linha reta
das calçadas mal iluminadas da cidade igual a todas em que eu nasci
sigo a linha
perco a linha
tropeço
peço licença
quem caminha não pensa
quem caminha não pára
quem caminha não voa
na boa
quê que eu tô fazendo desse lado da rua
sobre essas pedras
portuguesas
com certeza
incertas
como a vida
sigo direto sempre reto
torcendo
para que nunca me apareça
uma curva
pela frente.

20.11.06

Consciência

tenho a consciência
negra
como o fundo
desse oceano
tenho a consciência
presa
com algemas
eletrônicas
da escravidão moderna

tenho a consciência
negra
sou soul music
sou só música
para ouvidos liberados
sou o preconceito
envergonhado

tenho a consciência
negra
e o papel
na história
manchado
porque nada é pior
que o vazio
branco
bem ao nosso lado.

18.11.06

Madonna


é foda
sai da moda
incomoda
balança
lança a voz
contra a parede
minha dona
intimida
puta da vida
que pariu
sons
uns tão bons
outros não tão goods assim
mas isso não
importa
pra você
nem pra mim
madona
fodona
cafona
enfiada até o sim.

Já é


quando você acorda
com milênios no pescoço
pensando no almoço
sonhando com o fim
do dia
da tarde
da noite
já é
poesia




quando você olha
do seu vidro insufilmado
o moleque a seu lado
malabaris de limão
azedo
com medo
toda culpa
já é
poesia
quando você chora
sua dor tão mediana
que o fim-de-semana
parece a solução
vem o sábado
vai o domingo
sempre bundão
já é
poesia

quando você vive
e não se arrepende de todos os erros e acertos que ainda vai cometer até o fim disso tudo
a dor do inimigo
o som do tiro
já é
poesia.

15.11.06

Inativo

fico aqui
pensativo
tô vivo?
tô morto
inerte
expert
muito sabido
tô morto?
mas parece
que tô
ativo?
toca o play que eu apaguei.

Queixa

se você se queixa
e eu me queixo
deslocamos o maxilar
impossibilitando
o beijo.

14.11.06

Jabuti

ganhei uma jabuti
que se chama julieta
cuidado com a rima
que a coisa fica preta
ela anda devagar
mas vai longe
essa princesa
se o mundo é ligeiro
diz que é coisa
do capeta
muito sábia
minha amiga
leva a vida
sem receita
só se apressa
pra comer
mas sem muita
etiqueta
aí eu penso
vou morrer
vai ficar
a julieta
ela responde
é o destino
meu romeu
erro seu
ser tão
cometa.

9.11.06

Tanta

tanta poesia
nenhuma companhia
tanta mania
nenhuma campainha
tanta portaria
nenhuma entrada
tanta tentativa
nenhuma saída
tanta saliva
nenhuma bala

a vida é um conjugadoquartaesaladuplexcomvarandadefrentepronada
.

E a Cia?

Tanta poesia e nenhuma cia. Alguém deve estar se perguntando: cadê a cia? Pois é, a criação deste blog é parte de um projeto para mover este ser humano da preguiça em direção a uma produção mais constante. Constante e conseqüente. Se eu já não gosto da palavra constante, imaginem o que eu acho da palavra conseqüente...
E a conseqüência que os amigos esperam deverá ser um livro que, aliás, já existe. Meu Deus, publicar um livro... que xarope. Como é que vou me livrar dessa encomenda. Bem, temos esse soneto. O diabo é que, se eu bobear, o soneto vai me sair pior que a encomenda. Dá-lhe, dá-lhe poesia. Onde foi que eu fui amarrar meu mouse...

4.11.06

Alunos

são o futuro
sentado bem
na nossa frente

alunos
são o passado
passando bem
na cabeça da gente

alunos
respondem presente
têm dúvidas
são insistentes
às vezes
dormem
riem
choram
mas sempre
seguem em frente

deixando a nós
professores
senhores do engenho
engenhosamente sozinhos
em nossos ninhos
vazios
de sementes.

3.11.06

Finados de Cartola

queixo-me aos mortos
mas que bobagem
os mortos não falam
simplesmente os mortos
exalam
o perfume que roubam
da vida.

Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.