31.12.14

EU VOU

vem 2015
vem
vem quente
que eu estou
querendo
ver luzes
ver sombras
ver sambas
vem 2015
vem
vem que se você não vier
eu vou.


20.12.14

Encarnação

morreu
por abuso
e excesso
de uso
da vida
sua alma
descabida
nunca coube
na carcaça
a ele
concedida
morreu
para viver
outra vida
mais ampla
ex pan di da.


17.12.14

Há gosto para tudo

se ela gosta
de lagosta
ele gosta
de agosto
e os dois
se desgostam
nesse gosto
de esgoto
o amor
é uma inesgotável fonte de [desgostesas].


Mensalidade

há um mês
você se foi
acenando
para a saudade
que não tem idade
nem mensalidade
e ainda ataca
de surpresa
no meio
da névoa
que apelidamos de realidade.


13.12.14

Ressaca

a noite chega
feito um mar escuro
esfregando sonhos
contra o muro.

Filosofito

um mosquito
encontra
um periquito
e pergunta
por que você
é tão bonito
e eu tão esquisito?
porque o universo
é infinito
e hoje quem é
mosquito
amanhã será
lindo
periquito
não sei
se concordo
com isso
se discordo
ou
meteorito
fica o dito
pelo não escrito.


11.12.14

Pé de mulher

queria fazer
algo tão bonito
só para você
um poema
uma boa ação
um bom-bocado
uma canção
queria fazer
algo nada esquisito
só para você
um trato
um afago
um abraço
uma afeição
queria ser
algo que não sou
só para você
um pato
um gato
um panda
um sapato
só para você
calçar
e sair por aí.

Nossa vez

talvez
estejamos sós
em nosso pequeno
universo
talvez
todos os poemas
só devessem
ter um verso
talvez
seja a única
palavra
que defina
o que é certo.


8.12.14

Molduras

coloquei
duas pequenas
fotos dos meus filhos
na mesinha de cabeceira
bobagem
besteira
eles cresceram
tanto
que não cabem
na moldura
da minha saudade
sem fronteira.

7.12.14

Cães

somos os dois cachorros
negros
um é macho
o outro é fêmea
vagamos pela rua
somos sombra e medo
sombra do que sonhamos
medo dos humanos que encontramos
somos os dois cachorros
negros
cruzamos a rua
correndo perigo
entre carros
que não respeitam
nosso vício
de morrer
cruzamos na rua
trepando de medo
entre escárnios
que não aceitam
nossa fome
de viver
somos dois cachorros
negros
como a vida insiste em ser.

4.12.14

Alta costura

abraço
seu corpo nu
como se nunca
houvesse outro abraço
meu corpo
completamente vestido
mistura tecidos
costura sua pele
sua nuca
é minha nuca
e nem a morte
nos separa.

Contador

aos poucos
bem aos poucos mesmo
[lá se vão 55 anos]
vou aprendendo
o valor das coisas:
dinheiro vale poder
beleza vale querer
saúde vale viver
amigos?
ah
amigos não têm valor
são bem incalculável
têm cheiro
têm gosto
têm cor
cheiro de eternidade
gosto de felicidade
cor de amor.

2.12.14

Para Bolaños

sem querer
querendo
fui assistindo
fui vendo
aos poucos
sorrindo
depois
gargalhando
sem querer
curtindo
sem querer
amando
isso
isso
isso
a chave
do chaves
é a mesmice
de conhecer
a criancice
que nunca morre
em nós.

27.11.14

25.11.14

Atrás do trem elétrico

os olhos verdes da mulata
batem na minha lata
lembrando que nada mata
minha alma imortal
tropicalista
tropeço na lista
mas não perco
a pista
nem o fim da picada
sou mosca
sou mosquito
infectado de vida
picando por aí
voando
do fonseca a icaraí.

24.11.14

Bicho esperto

a tristeza
é lagartixa
que sobe
pelas paredes
quando a alegria
invade a casa
esconde-se
atrás dos móveis
espreitando
a hora
de voltar.

hoje falei
com são sebastião
e ele me disse:
tem problema não
hoje falei
com nossa senhora aparecida
e ela me disse:
toca sua vida
hoje falei
com anjos e santos
e eles me disseram
amém.

22.11.14

Estrada

a vida continua
meio vestida
meio nua
a vida continua
e numa nuance
de lua
ilumina a linha
que divide
a minha
e a sua.

11.11.14

Paixão

eu chamo
ela não volta
isso revolta
inflama
eu berro
ela reclama
isso invade
em chamas
eu choro
ela enxuga
isso de lágrima
engana.



7.11.14

Divas

uma noite
de diva
dez dias
de divã
prima-donas
divagam
em busca
de um fã
desejo
sucesso
nem que seja
de manhã.

4.11.14

Poemisto

amigos
há poucos
amantes
há tantos
atores
há únicos
atrevidos
há mortos
nunca se atreva a brincar com as palavras
um dia
podes
precisar
seriamente
delas.


30.10.14

Nordestino

quem tem
destino no nome
não pode ser
subestimado
quem dá
um nó
no passado
tem que ser
respeitado
bravo povo
nordestino
nosso futuro
em solo arado.


23.10.14

O amor é um lanche

o sorriso
de uma mulher
é tudo 
que a gente quer
o olhar
condescendente
o manear
da cabeça
um doce
"não se esqueça"
de trazer pão
café
e você
de volta
traz pão
café
e a ilusão
de que o amor
é um lanche posto
na mesa da eternidade.


12.10.14

Divisão

sinto o país
dividido
entre um poema
e um amigo
entre os que seguem
e o que sigo
entre o que quero
e o que consigo
sinto o país
adormecido
entre sonhos
e inimigos.



2.10.14

Adeus amigo

somos todos
mendigos
e mais não digo
pois na falta
de esmola
é chegada a hora
de ir embora
para a pasárgada
mais próxima
que houver.



26.9.14

Porta e retrato

leve minha cor
leve meu brilho
num
levantar
de supercílios
só não venha
reclamar
se acaso
eu ficar
melhor em preto & branco.


Salto

da paz
à indiferença
é um pulo
você pensa
que sou sábio?
pois lhe digo
sou nulo.


24.9.14

Sombreados

sem passado
sem futuro
sigo
olhando
no escuro
pontos de luz
que os antigos
e novos
magos
fingem ser
estrelas
e no fundo
são
centelhas
de iluminação.


23.9.14

Jura

poesia
minha [fia]
o que foi
que eu te fiz?
fez versos
fez poemas
fez rimas
que eu nunca quis
desculpe
minha [fia]
juro
que num faço
mais
[cê] jura
[cê] mente
[cê] logo
volta atrás.

Flores

prima vera
tia marisa
vó elisa
irmã marcela
todas elas
eram flores
todas elas
eram belas
todas eram
prima feras.


20.9.14

Cordilheira

se no céu
o sol não brilha
e daí?
você não é uma ilha
cordilheira que anda
cabe
a você
estender
seus braços
até formar
uma trilha.



19.9.14

Pioridade

envelhecer não é fácil
tudo começa com um tio
senhor
ou seu fulano
aí vem o doutor
e você
entrou pelo cano
sente até
falta de ar
e a coisa
vai piorando
qual a sua idade?
tantos anos...
nem parece!
finjo que
me engano
deve ser
esse seu jeito
tão jovial!
mais uma palavra...
e eu esgano
velho maluco!
velho sem noção!
nada disso
minha gente
é só um velho...
se revoltando.

16.9.14

Estações

o que faz
uma árvore crescer?
seu olhar de adubo
fresco
ou a natureza simples
do seu amor?
as folhas caem
a rua inunda
ó inverno
és um outono
metido à besta.


15.9.14

MALDITA ALEGRIA QUE ME INVADE

ser feliz é moleza
o duro
é bancar
essa tristeza
só para parecer inteligente
profundo
um ser
de outro mundo
cheio de dores
incuráveis
passarinhos mortos
amores sem corpos
tragédias caseiras
queimaduras
de todos os graus
borboletas sem asas
traições profundas
frustrações
de pau
e de bunda
ser feliz é moleza
foda
é parecer importante
sem um pingo
de tristeza.


14.9.14

12.9.14

Só no sonho

levou seu corpo
mal dormido
pra passear
na esquina
sonhava ser
atropelado
ou estudar
medicina
pensava estar
acordado
mas
na verdade

ainda dormia.



11.9.14

Sem pé nem coração

suas orelhas
levam brincos
e algumas
palavras minhas
pingentes
do passado
balançando
sem sentido
há quem lamente
a perda
de um brinco
mas triste mesmo
é o amor
sem pé
do ouvido.

10.9.14

Pedra, papel...

a tesoura
corta o pano
corta os pelos
corta os planos
a tesoura
censura a vida
nossos acertos
nossos enganos.



8.9.14

Com licença

meus poemas são assim
feitos de qualquer jeito
sem pé nem cabeça
cheios de defeitos
meus poemas são assim
sem fim nem começo
acho que faço errado
há quem diga
[tá perfeito]

meus poemas são assim
quem não tá a fim de ler
pede licença

e solta um peido.



Necessária

uma música triste
entristece o coração
mas não faz mal
porque a tristeza
insiste
e faz mais mal
quem por vezes
resiste
fingindo
que a tristeza

não existe.



6.9.14

Ora pombos...

se um pombo
pode voar
por que insiste
em caminhar?

bora voar
pombo!
antes que a vida
veloz

venha te atropelar.



5.9.14

Na pista de Nikiti

ê Niterói 
terra de mulheres bonitas
as melhores vistas
uma classe média
esquisita
onde o pobre
trabalha
ou visita

ê Niterói
vão dizer que não é mais
tão querida
tem assaltos
e até mesmo
bala perdida
que coisa
maldita

ê Niterói
aqui eu nasci
aqui eu vivo
a vida
e se bobear
vou morrer
sem deixar
pista.



4.9.14

Kriptonita

já foste forte
já foste imbatível
já foste super
já foste temível

hoje és só homem
sub tudo

super sensível.



3.9.14

Vida vampira

a vida
é dos corpos
sem alma
dos peitos
sem coração
dos gestos
sem sentido
dos crimes
sem perdão
dos leitos
sem amantes
dos amores
sem paixão
a vida
é dos vivos
sem alma
e dos mortos
sem caixão.


1.9.14

Domingo com o infinito

noites de domingo
noites de silvios
e de santos
fantásticos
prantos
de gols contra
e a favor
noites de planos
noites planas
e onduladas
em que tudo
absolutamente tudo
é um imenso
conjunto

de nadas.



31.8.14

Astronautas

seguimos em nossa aventura
os pés na terra
a cabeça nos céus
e o coração

ah, o coração

onde nos levar a paixão.



29.8.14

Ecos

o amor aperfeiçoa
a pessoa

eu era um sujeito
à toa

casei
tive filhos
numa boa

o amor aperfeiçoa
a pessoa

e de sujeito
virei
pai
objeto direto
que o amor
ecoa.

* Para os meus filhos Tássia e Lucas.



28.8.14

Antipoema

dizem
que a poesia
não é coisa séria
é como a astrologia
a iridologia
os cravos no nariz
ou as queixas
de uma velha

que bom que não é
que bom que não seja
assim deixo
a seriedade
aos estudiosos

da antimatéria.



25.8.14

É a vida

a árvore
encontrou o vento
em uma tarde seca
e ele levou suas folhas só porque podia
porque podia
porque era rápido
e porque naquele dia
justo naquele dia
não chovia.


Advetência

o dia em que o sol
encontrou a lua
houve festa na rua

a noite em que a lua
encontrou o sol
explodiu o paiol

entre o eclipse
da consciência
e o brilho
da ciência

existe

uma vã resistência.



Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.