29.12.07

2008

dois
zero
zero
oito
traga muito leite
traga muito biscoito

dois
zero
zero
oito
não deixe pra depois
não espere até dezoito

dois
zero
zero
oito
sem pressa pra viver
sem essa de ser afoito

dois zero zero oito
tenho nada pra dizer
tenho tudo pra fazer

lanço um olhar

dois
zero
zero

outro.

22.12.07

Natal


não me levem a mal
peço licença
para ser feliz

tem os pais
tem os filhos
tem os amigos
queridos

tem o vinho
tem o pão
tem os presentes
e a saudade
dos ausentes
na salada
das lembranças

rabanadas na tristeza!
encham os copos
que a vida será
doce

sobremesa.

16.12.07

Dependência

dependendo de quem pensa
segue a vida seu destino
dependendo de quem vive
morre um dia um menino
dependendo de quem morre

vai ter festa pro assassino.

12.12.07

Formatura

sob a forma dura
das formaturas
há o recheio mole
das emoções

sob a beca negra
das formalidades
há a roupa livre
das festividades

sob a placa fria
das homenagens
há o sentido simples
das amizades

formatura

há sempre uma lágrima
sincera
que as cameras insistem
em não captar.

8.12.07

Godbye

Deus disse adeus
e nem quer saber
por que a humanidade
não melhora

saiu pra almoçar
e não voltou
até agora.

2.12.07

Dezembro

fico devendo
a fraternidade total
o espírito de natal
um décimo terceiro
de esperança
rabanadas e lembranças

sigo rolando
pelas escadas
dos shoppings
cheios de presentes
com saudades
dos ausentes.

26.11.07

Nervoso

tenho os nervos
pinçados
de caso
pensado
perco a calma
que nunca tive

tenho as normas
pensadas
de tranças
cruzado
pinço a alma
que nunca vive

há coisas que estão me matando
há seres que vão me mantendo
há métodos que não levam

a nada

e tudo bem.

20.11.07

Zumbi

liberdade
só se for pra todos

igualdade
só se for pra sempre

fraternidade
só se for agora

porque o ideal é sonhar acordado

e saber que o futuro

já passou da hora.

18.11.07

Coisas erradas

pneu furado
buraco na estrada
feriado chuvoso
fruta estragada
nome esquecido
resposta atrasada

coração partido

por perto
uma gargalhada

há coisas muito certas
outras
muito erradas

mas o certo
é que ambas
passado um tempo

não são mais nada.

14.11.07

Suavidade

minha idade
sua idade
namoro
ou
amizade?

minha idade
vaidade
leviandade
veleidade

amor
ou
maldade?

sigo o sussurro
do sexto sentido
sou cego sou surdo

sou

suavidade.

10.11.07

Dor

tô com dor
no braço
tô com dor
no abraço

tô com dor
mas passo
os dias

entre a dor

e o cansaço.

5.11.07

Deprê

depressivo persigo a tristeza
como um doce de festa sem comida
depressivo percebo o obstáculo
como a grande muralha da china

depressivo afasto a alegria
como se ela fosse
o sintoma
de uma mundana vida feliz

depressivo enfio o pé na lama
escorrego e caio
da cama
para mais um abençoado dia

de bis.

Sessão "que inveja" IV - Vladímir Maiakóvski

brilhar para sempre
brilhar como um farol
brilhar com brilho eterno
gente é pra brilhar
que tudo o mais vá pro inferno
este é o meu slogan
e o do sol


Tradução de Augusto de Campos
do poema de 1920, "A extraordinária aventura vivida
por Vladímir Maiakóvski no verão na datcha"

1.11.07

Mortinhos

não importa
tanto fez
tanto faz
um dia
descansaremos em paz

afinal
sempre chega
a hora
em que vivemos

demais.

27.10.07

Portugeses

minha avó era portuguesa
com certeza
pois tinha na vida
essa tristeza
que faz as vezes de beleza
na natureza simples
das coisas

minha avó era portuguesa
com tristeza
pois sofreu de tudo
um pouco
que amarrou um filho à mesa
na certeza rígida
daqueles tempos

minha avó era portuguesa
que beleza
pois tingiu de vinho
nossa memória
que saiu da vida à francesa
na grandeza mínima
de uma história.

26.10.07

Intimidade

amigosíntimos
amizadespróximas
comonossentimos
sensuaisdemais

háumconsensosórdido

nunca

seremosjamais.

25.10.07

Chuva

quando chove assim

pura e simplesmente
vem um cheiro de fim

de tarde
de poças
de planta
do pé
molhado

ziguezagueando entre rios
com margens de pedras
portuguesas

segue-se o caminho
úmido
das incertezas

ainda existe
em botafogo
uma real grandeza?

19.10.07

Sensível



sento a mão
no teclado
é tecla
pra todo lado
sinto-me
desesperado

mas onde há
letras
há esperanç


a

14.10.07

Predadores

somos presas
presunçosas
que aprenderam
a predar

apreensivos
prosseguimos
silenciosos
a matar

somos presas
temos pressa
só nos resta
atacar.

8.10.07

Criança

feliz
quebrou o nasal
foi pra são luís
tomar um nescau

oh meu bom cuscuz
que a todos seduz
alimentai as crianças
do nosso brasil.

4.10.07

Torto

perder
o compasso
quebrar
a régua
sair
do esquadro
inverter
a métrica

sou
um sucesso
milimetricamente
fracassado.





29.9.07

Rosa

a menina toda prosa
vestiu rosa
e cresceu

cresceu aos próprios olhos
e aos olhos alheios
aos seus

saiu de casa embrulhada
em sonhos próprios
só seus

distraída atravessou a vida
aquela avenida
e desapareceu.

20.9.07

Barraco

poesia e porrada
é só começar

quebra o verso
soca a rima
chuta a métrica
passa por cima
arrebenta o ritmo
alucina

poesia e porrada
só pra variar

perdeu poeta
perdeu.

16.9.07

Psicologia

eu penso
você pensa
nós pensamos

eu tenso
você tensa
nós casamos

eu lenço
você lágrimas
nós nos separamos

nosso inferno
anda cheio
de boas intenções.

14.9.07

Bananeira

de cabeça pra baixo
acho tudo
um esculacho

invertido
divertido
sem sentido

largo tudo
e me esborracho.

9.9.07

Beethoven

estou surdo
mas sinto
a música
fluindo
passo a vida
sentindo
indo e vindo
mesmo que nenhum movimento
tenha sentido
torno humano
o mundo
em que vivo

sou surdo
tenho a felicidade
de não precisar mais
ter ouvidos.

7.9.07

Dependência

sou dono do meu destino
escrevo embaixo
e assino

sou senhor do meu karma
miro o futuro
uso arma

sou proprietário do meu conjugado
ando livremente
no metro quadrado

sou independente do meu verso
morro de medo
e me despeço.

2.9.07

Setembro


quando me lembro

é setembro



sol e vento

resolvendo levar



o que restar

dos meus cabelos



mês de perdas e ganhos

inesquecíveis



dias de pedras e sonhos

intangíveis



há coisas que esqueço

e há as das quais não lembro



é possível

é setembro.


28.8.07

Negro

sou um branco
de alma negra
tenho as pernas bambas
e
no fundo
nenhuma certeza

sou soul music
sou beleza
ando em círculos
faço piruetas
gingo pela vida
rio na mesa

sou um branco
de alma negra

sobre a tela
pálida

pinto poesia
preta.

24.8.07

A paixão

fiquei cafona
perdi o senso
comprei incenso
e rosas vermelhas
vi velas acesas
no fundo dos seus olhos
pedi sobremesas
descansei nas ondas
dos seus cabelos
e não satisfeito
passeei nas curvas
do seu corpo

quando acordei
estavo morto

voltei a ser um
afogado nas rimas
de um lugar-comum.

21.8.07

Mega sena

a sorte se espalha
em números
impávidos
insossos
calados

ante o olhar
leite condensado
das doces esperanças

mega sena
panorâmica imagem
miragem de sonhos

olhares risonhos
ante o medo mortal
de acertar em cheio

e gastar num só meio
toda a ventura reunida
que um dia teremos na vida.

18.8.07

Morte

não existe nada de novo
em nossa natureza

morta

ela sempre bate à porta
dos de vida reta
dos de vida torta

não existe nada a tremer
agora e sempre
a inês é

corta.

16.8.07

Idade

temos a idade
da nossa imaginação
maduro pela manhã
de noite doidão

temos a vaidade
da nossa realização
mal visto no espelho
bendito no salão

temos a realidade
sem graça e sem razão
me mudo pra mim mesmo
e aqui não volto não.

12.8.07

Meu pai

uma poesia é pouco
pra quem já fez tanto
sem cobrar, sem pergunta

uma poesia é nada
pra quem já fez tudo
sem sequer, sem contudo

pai
meu melhor poema é mudo

então vai um abraço
um beijo
um sentimento profundo

que uma vida é pouco
quero ser seu filho
até o fim
de um outro mundo.

10.8.07

Embocadura

o importante não é falar
é não perder a embocadura
o relevante não é ser
é possuir uma casca dura

passo horas a fio olhando pro rio e não vejo um peixe
penteio o meus pelos pubianos como se alguém fosse vê-los

no momento seguinte

é um assalto
é um crime

essa vida de mãos ao alto
e o medo de viver que nos oprime.

7.8.07

Cilada


ela foi embora
não deixou nada
nem armadilha armada
nenhuma calcinha usada

ela foi embora
com a alma levada

e eu fiquei só

com a mente ensaboada.

3.8.07

Agosto

como eu gosto
de agosto
mês oposto
a fevereiro
nem carnaval
nem festeiro
tem gosto
de mês inteiro

fico no meu posto

é agosto
do freguês
que o poeta vive
até janeiro.

31.7.07

Novidade

hoje vi um inseto diferente
era preto no fundo
colorido na frente

suas asas
dois triângulos
bateram
de repente

sinto que nunca mais vou vê-lo
bichinho independente
deve estar comentando
em casa

hoje vi um ser humano
estranho
como toda a sua gente
fugi o mais depressa que pude
sabe-se lá o que ele tinha
em mente?

Parede


o pincel corre ligeiro

viu a parde primeiro



sem pretensão de tela

ela espera fria

a cor do momento



pálida não reclama

do repetido movimento

na sua dura sabedoria



sabe suportar seu destino

ser apenas plano de fundo

furada a prego ferino



só para pendurar

o quadro do menino
.

26.7.07

Avós

são pais
com uma dose a mais
bêbados ideais
sábios demais
pra perder tempo
com outra coisa
que não seja o amor.

23.7.07

Quase isso

o que não é
é quase
caso não seja
enseja
isso ou aquele
solfejo
é quase um som
sussurro
sobe no morro
soturno
sabe-se é certo
sombrio

o que não é
só se sabe
ser isso.

20.7.07

Amigos

levo comigo
pra onde eu for
sejam de qualquer cor
sejam grandes ou pequenos
sejam de qualquer sexo ou idade
sejam muito bons ou mais ou menos
são amigos
e trazem consigo
a marca registrada
da amizade.

17.7.07

Acidentes

acontecem
quando plutão se aborrece
ou urano enlouquece

só resta aqui uma prece
pelos que ficam
pelos que desaparecem

porque na vida
só é finito
aquilo
que a gente esquece.

12.7.07

Vigília

perdi um poema

dormindo

cravei a última sílaba

fluindo

achei a idéia simpática

indo e vindo

caí no sono de novo

sumindo.

8.7.07

Maravilha


um sonho

uma ilha

um filho

uma filha

um indício de paz

traz

uma esperança

vadia

de que um dia

não só o Cristo

mas todo o mundo

seja uma

maravilha.

5.7.07

Hai Kai de São João


hai kai o balão

aqui e naquela mão

não vou lá não


que a tal da bucha

vai e cai bem na direção

da cara de pau

Sem nome

não é sensato
não faz sentido
não deve ser
não é bem-vindo

mas ainda assim
insiste
em ser compreendido

é muito esquisito
e zonzo
como um

mosquito.

3.7.07

Dia-a-dia


a poesia

persegue a realidade

como o gato segue o muro

um perigo de cada lado

além da própria loucura

o instinto mantém o equilíbrio

entre os designíos da linha reta

não temos objetivo

não temos meta

só um longo caminho

que nos leva adiante

com um frio

na coluna



ereta.

29.6.07

Marketing

se o negócio é vender
estou perdido
sou um ser de troca
escambo
permuta

se o negócio é dinheiro
estou fodido
sou um ser de vento
brisa
paisagem

se o negócio é negócio
estou falido
sou um sertanejo
e troco
um milhão
por um beijo.

26.6.07

Preguiça II

vamos à missa?
quem é que fica em casa?
preguiça.

preguiça é o dom de ficar parado
atordoado
com o movimento ao nosso lado

preguiça é a prima rica do tédio
resiste ao assédio
incessante do trágico assalariado

preguiça é uma sensação tranqüila
mora na vila
e não no comdomínio super valorizado

preguiça é um estado de desânimo
tão magnânimo
que não tem o menor desejo de ser
explicado.

23.6.07

Bebês


a primeira fralda

o primeiro cercadinho

a vacina da gotinha

o teste do pezinho



passeio pra pegar sol

a meleca no narizinho

a dor de ouvido médio

o remédio do vizinho



visita à creche mais próxima

achamos tudo tão limpinho

amamos aquela que é longe

cara mas com muito carinho



falamos mil vezes não

dissemos mil e uma vezes sim

choramos de emoção

a cada início do fim



fomos bobos

somos tolos

sopramos velas

comemos bolos



hoje eles estão grandes

são gigantes

no meio do ninho

e nós como antes

imaginamos

somos só pais



somos sozinhos.



Liberdade

ainda que tarde
noite ou madrugada
liberdade
ainda que roubada
vendida ou comprada

liberdade

ou você tem
ou não tem
ou você faz
ou corre atrás

porque sozinha
ela não vem.

21.6.07

Azul

tudo de bom
tudo do bem
meia lua no céu
vaivém
o trânsito flui
meu nariz também
nenhuma dor
sono de neném
há dias assim

ideais pra mim
especiais pra ninguém.

17.6.07

Vizinhos

são pedacinhos
da casa
ali do lado
são aliados
na luta
da vida
contra a rotina
certeira

não falha:
o carteiro passa
o cachorro late
o pedinte pede
o porteiro bate

somos vizinhos
de sempre
de frente
de fundos
seguimos essa rua que vai dar no fim do mundo.

12.6.07

Namorados

mãos dadas
beijos pedidos
línguas afiadas
corações partidos
pernas cruzadas
olhares perdidos

namorados

nada é dado
tudo é trocado

somos almas penadas

pisando o chão
das emoções

enamorados.

10.6.07

Sedução

o texto passa perto
presta atenção
a letra roça no desejo
pega na mão
o verso é meia-verdade
mente e tesão
a rima é só um som
leve intenção

não deixe a palavra no espaço
no futuro
ouvirão
alguém pode perceber
nesse poema

uma ereção.

7.6.07

Tricolores


são torcedores

das três cores

que traduzem

tradição



tricolores

nunca perderam

a esperança

sofreram

mas persistiram

na lembrança



tricolores

têm sangue

e paixão

correndo nas linhas

do campo

e do coração



tricolores

hoje brilham

com o sol da manhã

e à luz do refletor

claro e alto gritam

salve o tricolor!

5.6.07

Faz frio

demais para as criaturas do rio
faz frio
demais para pensar em aquecimento global
faz frio
demais para tomar uma coca-cola gelada
faz frio
demais para perceber que tudo é natural

faz frio
quando se sente um arrepio
e a coluna vertebral pode bem ser
uma lacraia inesperada saindo do ralo
invadindo a sua vida privada com a agilidade
mórbida de sua picada

faz frio

mas eu suo em demasia
para uma alma pelada.

3.6.07

Juno


senhora e senhor

inverno e verão

fúria e amor

ódio e paixão



é junho minha gente

muita atenção

acendam a fogueira



que eu solto o balão.

28.5.07

Investigador

investigando o passado
sigo passos bem pesados
não há marcas nas pedras
o asfalto não deixa pistas
sou um índio solitário
numa reserva indígena

pesco a direção do vento
farejo a trilha das estrelas
vejo o som de patas ao longe
sinto a sensação de peixes
voando em minha cabeça

fui um índio solidário
numa cabana indígena

hoje ouço
mp3
hoje vejo
mp4
hoje vivo
no meu teclado

mas sou um índio libertário
nesse único verso

indígena.

25.5.07

Aniversário

mais um ano de vida
e nada a reclamar
tenho mulher
tenho filhos
tenho bichos
para acariciar

mais um ano de vida
e nada de arrepender
fiz amigos
fiz poemas
para nunca esquecer

mais um ano de vida
e tudo está por vir
venham netos
venham afetos
até a hora de ir.

23.5.07

Desafinado

afinando as cordas
vocais
abdico da voz
nunca mais

afiando as facas
fatais
acerto contas
vou atrás

nada me escapa nesse mundo de meu deus
pena que em cada mundo haja tantos zeus

juro vingança
faço lambança
pensar até cansa

saio armado
atiro pra todo lado

com sorte

miro no inocente
e acerto o culpado.

21.5.07

As moiras


tecem o nosso destino
seja você
santo ou assassino
gente ou pedra
velho ou menino

as moiras

não se divertem
apenas fiam, medem
cortam
nossa vida em pedacinhos
grandes ou pequeninos

às moiras

tanto faz se sofremos
ou gozamos
de onde viemos
para onde vamos
se somos sãos ou insanos

as moiras sempre existiram
são o que há
resistiram
e resistirão
ao passar
dos anos.

20.5.07

Eu romântico

minha vida
é um palco iluminado
quando falta luz
fico apavorado.

Sessão que inveja III - Oswald de Andrade

Um de meus poetas preferidos. Viva Oswald de Andrade!

As quatro gares

infância

O camisolão
O jarro
O passarinho
O oceano
A visita na casa que a gente sentava no sofá

adolescência

Aquele amor
nem me fale

maturidade

O Sr. e a Sr. Amadeu
Participam a VExa.
O feliz nascimento
De sua filha
Gilberta

velhice

O menino jogou os óculos
Na latrina

meus sete anos

Papai vinha de tarde
da faina de labutar
Eu esperava na calçada
Papai era gerente
Do Banco Popular
Eu aprendia com ele
Os nomes dos negócios
Juros hipotecas
Prazo amortização
Papai era gerente
Do Banco popular
Mas descontava cheques
No guichê do coração

17.5.07

Lost

perdidos numa ilha
perdidos no espaço
somos circo
somos palhaços
nos evolvemos com estrelas
beijamos astros
somos fãs
da vida vivida em capítulos

com intervalos

comerciais
intelectuais
espirituais

não somos nada
somos demais
nada demais
pra fugir
deixar pra depois
pois estamos lost
na vida somos poste
e os fios que nos enfeitam
são finas formas de ligar
a energia que rola entre nós

tá ligado?
estamos ligados
estamos sós
no tempo e no espaço
de nossos avós.

12.5.07

Todas as mães

todas as mães
que conheci
são matildes
ilhas de amor
cercadas de ventos
uivantes filhotes
beijando suas praias
prenhes de esperanças
nadando em volta
dos seus olhos atentos

gemas de ovos
centros de poder
seus desejos são sinas
suas bençãos divinas
suas pragas assassinas
suas promessas

milagrosas

transformam tristezas
constroem riquezas
enfrentam a dureza
dos séculos
com segundos
de fé

são mães
são matildes
são provas
sempre vivas
da eficiência

mágica

do amor.

6.5.07

Louco





saio sem compromisso
não tenho nada com isso
saio pra ser
herói
medíocre
ou assassino

só sei que não conheço
o caminho
e não ensino
o que não sei
nem quero saber

não deixo pistas
não sou otimista
nem pessimista
só espero

sinceramente

que o mundo
me perca de vista.

1.5.07

Trabalho

pra caralho
malho
o dia inteiro
dinheiro
tem cheiro
cor de
destempero
espero
o dia primeiro
pago
todos os pecados
a prazo
com juros

que não faço mais

rapaz
pra quê tanto trabalho
todo mundo manda
e você
sempre
faz.

28.4.07

Chuva e vento

natureza em movimento
perdi o assento
voou o chapéu
com a força
dos elementos

passei maus momentos
até entender
que o entardecer
não tarda
que o anoitecer
não falha
que o amanhecer
não falta

dá um tempo

pois a tristeza faz parte
da natureza torta
dos sentimentos.

23.4.07

Jorge


matar um dragão por dia

é como fazer poesia

enfrentar o diabo

da vida

com a lança-palavra

erguida


matar um dragão por dia

é como viver na lua

derrotar o tédio

da morte

com o verbo-espada

afiada


matar um dragão por dia


é respirar ódio e cuspir fogo pelas ventas

para que um dia toda maldade vire fumaça

e nossa presença guerreira seja só a lembrança

de um tempo em que o homem valente era o herói da raça


viva são jorge

viva oxossi

viva bem

e mate o mal.

21.4.07

Tiradentes

joaquim josé da silva xavier
foi pro tudo ou nada
foi pro que desse e viesse
foi apresentado ao laço
foi dividido em pedaços
espalhado
dispersado
como a consciência nacional

mas não fizeste mal
joaquim

cortaste um dobrado
mas ganhaste um feriado
que se por ti não foi gozado
é por nós aproveitado

tenho dito
e obrigado.

15.4.07

Bala perdida

sou halls esquecida
ardida
partida
na cesta do lixo

sou juquinha derretida
melada
colada
no fundo da bolsa

sou kids hortelã
roída
largada
na boca das formigas

triste é o destino
das balas perdidas
sem um aperto de mão
sem um sorriso de criança
sem um cosme e damião

sem uma doce lembrança.

12.4.07

Mais que nada

é um pouco
é quase tudo
quase mudo
quasímodo
subindo
notre dame
pedindo
minha dama
esmolando
um pingo

de atenção.

8.4.07

Páscoa

saio do ovo
entro de novo
rezo pro povo
venço a preguiça
acredito na missa
saúdo os amigos
que nunca vi mais gordos

chocolate pra todos.

7.4.07

Aleluia

fui fazer um verso
saiu um versículo
deve ser porque
é sábado
alegria

aleluia

cupim alado
perdido
voado
até ele
busca a luz

cupim aliado
cupim solidário
assim como nós
carrega sua cruz

aleluia
oxalá
haja luz.

6.4.07

Sessão que inveja II

"Roxanne, you don't have to put on the red light"!
Gostaria de ter escrito isso. Police!

Paixão

de Cristo
de cisto
desisto
só um
messias
nos basta

cruzes
credo
altares
é tempo
de muitos
templos
e pouca


ouvidos atentos

o fim
não está chegando
mas está sempre
começando

não leve a mal
apocalipse nunca
alegre-se now.

1.4.07

Piripaco

a vida é uma beleza
a vida é um saco

nunca aposte tudo
nunca engula sapo

às vezes
loteria

às vezes
piripaco.

Mentira

tira a mão daí
não gosto de você
nunca mais quero te ver
maldita a hora em que eu te conheci

mentira pouca é besteira
não foi a última
não será a primeira
sigo em busca da verdade
como se ela fosse
verdadeira.

31.3.07

Fisioterapia

massageie o ego
ponha gelo na consciência
faça acupuntura da realidade
alongue os limites da imaginação

será que existe alguém nesse planeta
que possa se considerar inteiramente são?

são coisas da vida
celulites da paixão
estrias do pensamento
artrites da razão

corrija sua postura
flexione até o dedão
saiba que a existência é dura
mas tem fisioterapia
arte
e
emoção.

25.3.07

Ênclise

sou um camelo
mas quero vê-la
entre minhas corcovas
vejo seu cabelo
caminho no deserto
pra te ter por perto
enfrento o asfalto
corro
pulo
salto
muito mais alto
que o cume do corcovado

ó cristo
me dá um abraço
sou só um camelo

e só quero comê-la.

22.3.07

Resumo

assumo a síntese

do limão
limonada
do irmão
mãos dadas
do avião
horas voadas

não há nada nesse mundo que não leve uma aparada

humanos um
máquinas zero.

18.3.07

Transmimento de pensação

você pega um ônibus
o ônibus me pega
você salta no ponto
onde nego me assalta
você entra na farmácia
eu adentro o hospital
você compra absorvente
eu sangro pelo nariz
você sobe na balança
eu embarco numa maca
você se sente pesada
me sinto leve demais

você entra no trabalho
eu descanso em paz

isso é transmimento
de pensação
nosso encontro
fica pra próxima

encarnação.

14.3.07

Dançarino

sonho bailar na vida
como se fosse fred astaire
sambar de alegria
valsar de tristeza
evoluir na avenida
navegar em veneza
me perder no rio
me achar em salvador
me apaixonar todo dia
morrer de eterno amor

sonho bailar na vida
como se fosse um peão
rumbar contra o tédio
bolerar de tesão
enganar a morte
com um passo sim
outro compasso não
te abraçar de frio
te guiar com a mão

sonho bailar na vida
até abrir
um buraco

no chão.

11.3.07

Baião de dois

a vida
é pra nós dois
somos feijão com arroz
eu te como
você me come

depois

tomamos café
vivemos com fé
olhamos pro pé
pedimos perdão
porque a vida

é pra depois

somos baião de dois
sem ritmo
só feijão com arroz.

10.3.07

Sessão "que inveja"!

Estou inaugurando com a música "Se", de Djavan, a sessão "que inveja". Pelo menos uma vez por mês vou postar aqui poesias, letras de músicas, textos que eu gostaria de ter escrito. Curtam e, como eu, morram de inveja!

7.3.07

Mulheres

colheres cheias de paixão
mergulhadas nos pratos
fundos
da razão

cálices de romantismo
brindando aos sentimentos
bebendo ao som
dos quatro elementos

saladas frias
de folhas vivas
temperos de morte
em suaves venenos

doces de mães
sobremesas de amantes
licores para acompanhar
balas de sonho

mulheres

de onde viemos
para onde vamos
vocês sempre são
e nós sempre apenas

fomos.

28.2.07

Preguiça

não quero fazer nada
que dê em algo
que tenha sentido
que seja objetivo

que me dê motivo

pra ir embora
com tim maia

morro de sono
canto o universo
em desencanto.

25.2.07

Labuta

o labor tem seu sabor
tem gosto
tem cor
sei de cor
o seu teor
teoria
na prática
do odor
na lida
decoro
ao seu redor
roedor
receio
sem valor

trabalho
malho
erro
falho

labuta
la vida
louca

como um bem-te-vi.

22.2.07

Cinzas


foi tudo que restou

depois do último

suspiro


serpentinas

foi tudo que girou

depois do último

gesto


confetes

foi tudo que tocou

depois do último


acorde


a folia acabou.

19.2.07

Não tinha a ver

a pulga com o carrapato
a meia com o sapato
o buraco com o rato
a comida com o prato

a princesa com o sapo

não tinha a ver

eu com você
o programa com a tv
o azeite com o dendê
o fusca com o fenemê

o saci com o pererê

não tinha a ver

então por que te vi
peri beijou ceci
e acabou aí
ali

ihhhhhhhhhhhhhhh
só vejo uma fila de agás
atrás

de mimmmmmmmm.

15.2.07

Carnaval


você ainda não me ensinou a sambar

mas eu sei que vou te amar

por toda a minha vida


carnaval

você pensa que cachaça é água

e lança seu perfume de alegria

nessa avenida iluminada


carnaval

esse ano não vai ser igual aquele que passou

vamos brincar até quarta-feira

e tudo sempre vai durar


porque carnaval

você é minha brincadeira séria

o resto da vida é besteira.

10.2.07

Velhos amigos

são como sujeira no umbigo
pedaços do princípio
guardados
com todo o cuidado
que só o desleixo deixa

amigos de outrora
outras horas
contidas
num canto
escuro
da memória

tempo sem juízo
juiz e regras
todos íntegros
nomes inteiros
na lista de presença

presentes do tempo
que a vida não era
folhetim

éramos sim
boletim.

8.2.07

Vida moderna

a terra
tão contida
num vaso

o fogo
tão fruto
do isqueiro

o ar
tão frio
e condicionado

a água
tão dividida
pelo chuveiro

onde foram parar
os quatro elementos

onde vai dar
a vida moderna

é
pelo visto
saímos da caverna.

7.2.07

Compromisso

a poesia não tem compromisso

nem virtude
nem vício

pega no meio
se perde no início

é tim sem maia
é jaca sem visco

aranha sem teia
olho com cisco

é furo na meia
é viola no saco

chute na veia
calo no pé

a poesia só serve pra isso

abrir a cabeça
encher o pulmão

morder seu coração.

6.2.07

Geribáticos

contra os sorumbáticos
temos os geribáticos
contra a volta às aulas
temos professoras novas

novos amores
odores de cotovelos
intermináveis novelos
novelas das sete
onde o amor está no ar

sempre vence

você me convence
a ser feliz

contra os macambúzios
temos búzios

a sorte está lascada.

2.2.07

Búzios

jogo de búzios
jogo do mar contra a areia
vento traz sereias
conjunto de curvas
ondulando certezas
quebra-mar de friezas

beleza

não há nado
não há nada
que o mar não leve

pras profundezas.

31.1.07

Acessório

quero ser pente
só para percorrer
seus cabelos

quero ser brinco
só para ouvir
seus segredos

quero ser batom
só para brilhar
nos seus beijos

quero ser colar
só para arfar
seus desejos

quero ser cinto
só para sentir
seus movimentos

quero ser salto
só para seguir
seus passos

e ver se um dia viro roupa íntima
do seu coração.

29.1.07

Velhice

"A velhice é um estado de espírito que, com o passar dos anos, infelizmente se manifesta no corpo"

(minha)

dói aqui
dói acolá
pra não doer
é preciso se cuidar

como assim?

eu que sempre cuidei de tudo
e todos
agora ainda vou ter
que cuidar de mim?

ó pesado fardo!
ó nefasto destino!
ó que mesmo que eu estava falando...?

esqueço que envelheço
esqueci o que perdi
esquecerei o que não mereço

porque vivo sem endereço
só quero chegar
ao lugar
onde
morri.

26.1.07

Killing me softly

with his song
como bola de ping-pong
pra lá e pra cá
como um joão
sem garrincha
como um bem
sem te vi

as palavras podem matar

o tédio
o assédio
o ascensorista daquele prédio
na avenida paulista

quero te perder de vista
sem deixar pista
não insista

eu não te ouço

porque você quer
just kill me
whit your songs

vou criar uma ong
só pra dizer
so long

roberta flack.

23.1.07

Traumas de infância

sorvete que cai
balão que voa
vitamina mista
meia de presente
professora feia
gripe no passeio
medalha de participação
regular na redação

o primeiro sim
o primeiro não

a infância é boa
mas só quando
termina.

20.1.07

Rio


rimos porque somos cariocas
rimos mesmo que soe hipócrita
rimos quando olhamos em volta

sua natural beleza
sua eventual tristeza
sua perimetral nobreza

rio
rimos
porque nunca está
sozinho
quem tem o mar
como vizinho
e a alegria
no meio do caminho.

18.1.07

Janela


vejo a vida quadrada
emoldurada
quase parada
mas ela passa
vendendo amendoim
diz que não
diz que sim
acho engraçado
que haja um compasso
que persista um ritmo
que se busque formato

onde não há.

15.1.07

Solteiros

somos todos nós
solitários
desatando nós
que a vida dá

solteiros
soltamos a voz
saltamos dos ônibus
embarcamos em cada uma

sozinhos
falamos com vizinhos
visitamos a vida
recebemos visitas

mas não há de ser nada
sozinhos chegamos
sozinhos nós vamos
até a próxima

entrada.

11.1.07

Casais

casais são lindos

sempre iguais

beijam demais
não são simples mortais
registram a felicidade
em flashs digitais

e mais

sem danos morais
inventam a eternidade
nos mínimos

ais

ai como eu te amo
ai como eu te quero
ai como eu te espero

e é tudo sincero
e é tudo que importa

e é tudo.

7.1.07

Caramalhada

tua cara malha
teu corpo rolha
seu ser olha
quero ser folha

leve

sem peso e sem juízo
breve
te vejo sem aviso
reze
pra não ter compromisso
isso

foi o que te ensinei
nisso
sou bom no que não sei
gasto
os dias como um maço
de notas

de um.

3.1.07

Esperando


o azar do pessimista
é que todo dia
nasce uma esperança

aqui ou no japão

um sorriso inesperado
um gesto de perdão
uma flor no meio da pedra
uma visita no portão

uma alegria na miséria
um real no bolso da imaginação
uma solução na controvérsia
um sonho sob o colchão


o azar do pessimista
é que todo dia

nasce uma criança

bem lá no fundo
naquele lugar do mundo

dentro de cada um de nós.

Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.