28.8.07

Negro

sou um branco
de alma negra
tenho as pernas bambas
e
no fundo
nenhuma certeza

sou soul music
sou beleza
ando em círculos
faço piruetas
gingo pela vida
rio na mesa

sou um branco
de alma negra

sobre a tela
pálida

pinto poesia
preta.

24.8.07

A paixão

fiquei cafona
perdi o senso
comprei incenso
e rosas vermelhas
vi velas acesas
no fundo dos seus olhos
pedi sobremesas
descansei nas ondas
dos seus cabelos
e não satisfeito
passeei nas curvas
do seu corpo

quando acordei
estavo morto

voltei a ser um
afogado nas rimas
de um lugar-comum.

21.8.07

Mega sena

a sorte se espalha
em números
impávidos
insossos
calados

ante o olhar
leite condensado
das doces esperanças

mega sena
panorâmica imagem
miragem de sonhos

olhares risonhos
ante o medo mortal
de acertar em cheio

e gastar num só meio
toda a ventura reunida
que um dia teremos na vida.

18.8.07

Morte

não existe nada de novo
em nossa natureza

morta

ela sempre bate à porta
dos de vida reta
dos de vida torta

não existe nada a tremer
agora e sempre
a inês é

corta.

16.8.07

Idade

temos a idade
da nossa imaginação
maduro pela manhã
de noite doidão

temos a vaidade
da nossa realização
mal visto no espelho
bendito no salão

temos a realidade
sem graça e sem razão
me mudo pra mim mesmo
e aqui não volto não.

12.8.07

Meu pai

uma poesia é pouco
pra quem já fez tanto
sem cobrar, sem pergunta

uma poesia é nada
pra quem já fez tudo
sem sequer, sem contudo

pai
meu melhor poema é mudo

então vai um abraço
um beijo
um sentimento profundo

que uma vida é pouco
quero ser seu filho
até o fim
de um outro mundo.

10.8.07

Embocadura

o importante não é falar
é não perder a embocadura
o relevante não é ser
é possuir uma casca dura

passo horas a fio olhando pro rio e não vejo um peixe
penteio o meus pelos pubianos como se alguém fosse vê-los

no momento seguinte

é um assalto
é um crime

essa vida de mãos ao alto
e o medo de viver que nos oprime.

7.8.07

Cilada


ela foi embora
não deixou nada
nem armadilha armada
nenhuma calcinha usada

ela foi embora
com a alma levada

e eu fiquei só

com a mente ensaboada.

3.8.07

Agosto

como eu gosto
de agosto
mês oposto
a fevereiro
nem carnaval
nem festeiro
tem gosto
de mês inteiro

fico no meu posto

é agosto
do freguês
que o poeta vive
até janeiro.

Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.