28.2.14

Penalidade máxima

esse seu poema
me deu pena
e a minha pena
deu poema
pena
que saiu
assim empenado.

Suficiente

há tanta coisa
que não conheço
que não sei
que não vi
que não verei
há tanta coisa
que não
experimentei

tanto lugar
aonde fui
e até hoje

não voltei.

23.2.14

O velho e a praça



o tempo passa
mas o velho não tem pressa
entre o velho e a praça
não tem nada
que o impeça
de fumar um cigarro
atrás do outro
já que tempo
é um osso
que ele tragou

até o fim.

* Foto de Pedro Curi

21.2.14

Assalto à padaria

passei a sexta
no sábado
só no compasso
sem problema
amanhã
eu desfaço
e passo
adiante
o cansaço
pego um foguete
vou pro espaço
como se vivesse
ainda
na década de sessenta

menino

sou um eterno
astronauta
só me falta
um destino
porque o sonho
eu já tenho
desde que assaltei
a padaria que

muito estranho

vendia sonhos
junto com o pão nosso
de cada dia.

20.2.14

Palavra linda

paradoxo

pode não significar nada
mas soa tão bem
que a palavra
assanhada
veio parar 
no meu poema

qual o problema?

tudo vale a pena
quando
a ignorância
não é pequena.

14.2.14

Poema médio

nascer na classe média
um privilégio
pensar como classe média
um sacrilégio
filosofar entre a classe média
um sortilégio

mas no fundo tudo é um problema de colégio.

Cegueira noturna



queria estar
em outro lugar
em outro tempo
em outra rua
só para encontrar
mais do mesmo
e assim
ter certeza
que existir
é andar

a esmo.

11.2.14

Dança

os astros dançam
no céu
enquanto nós
bailamos na terra
perguntem
à madeira
o quanto
ela depende
da serra.

8.2.14

Cinzas e borras

faço café
para receber amigos
para me despedir de outros
ou só por fazer
fumaça

quando eu morrer
façam café
acendam um cigarro
para eu me afundar
na borra
para eu me perder
na fumaça

quando eu morrer
façam o que quiserem
façam o que for
mas façam.

Para Jackson



acabo de saber
que perdi
um amigo

engraçado
difícil
complicado
mas amigo
daqueles
que não fica menos
por ter sido
perdido

adeus amigo
um dia nos reencontraremos
na galáxia
divertida
fácil
simples
dos amigos.

5.2.14

Receita do fim


pega-se alguém
que supostamente
cometeu
comete
cometerá
um crime
espanca-se
desnuda-se
amarra-se
a um poste
ensaguentado
aplaude-se
curte-se
vibra-se

como se estivesse acontecendo algo de novo

isso é mais velho que tudo
isso é daquelas receitas
que me deixam mudo
com medo
que nada mude
e que
no fim
sejamos mesmo
apenas
o fim de tudo.

3.2.14

Ahgonia

ah
e há
a impossibilidade
de ser menos
medíocre
de subir aos céus
quando toda
a beleza
se esconde
aqui embaixo
o problema
é que eu procuro
busco

e não acho.

1.2.14

Sopro

se você tem filhos
um cachorro
gato
ou alguma 
esperança
ainda que não haja vento
sua vida
a brisa beija

e balança.

Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.