18.11.06

Já é


quando você acorda
com milênios no pescoço
pensando no almoço
sonhando com o fim
do dia
da tarde
da noite
já é
poesia




quando você olha
do seu vidro insufilmado
o moleque a seu lado
malabaris de limão
azedo
com medo
toda culpa
já é
poesia
quando você chora
sua dor tão mediana
que o fim-de-semana
parece a solução
vem o sábado
vai o domingo
sempre bundão
já é
poesia

quando você vive
e não se arrepende de todos os erros e acertos que ainda vai cometer até o fim disso tudo
a dor do inimigo
o som do tiro
já é
poesia.

6 comentários:

Tião Martins disse...

As palavras às vezes são tiros. Muitos no pé, poucos na cabeça. Questão de mira...

Anônimo disse...

Tião, você bem sabe, como poeta que é, que a poesia tem musicalidade própria. Ou tem ou não é poesia. Esse poema vai além disso. Ele grita por música. Nasceu como bela letra e quer ser embalado. É fêmea, com certeza.

Anônimo disse...

lindo poema!
mostra que nosso sofrimento na maioria das vezes é tao mesquinho comparado aos problemas reais

valéria tarelho disse...

na mosca, Sebá!

Anônimo disse...

Preferiria que nada disso fosse poesia.
Nem lembrança, nem realidade, muito menos futuro. Nada.

Felipe Vasconcelos disse...

Esse é outro dos meus prediletos.

Reflexos

 reflito meu futuro com o olhar do passado sei que morro sei que lagoa sou sujeito à toa que a morte zoa.